sexta-feira, março 24, 2006

Manta de retalhos

Na última Assembleia Municipal, só no final é que surgiu uma das intervenções mais importantes e significativas e que foi do professor Leonel. Chamou a atenção para o projecto que está em fase de apreciação e que, ao que tudo indica, será uma iniciativa privada para arrasar uma casa centenária em frente ao mercado e ao lado da Rua António Pinto Carvalho (para ser mais prático, onde se situa a loja dos chineses) e construir um bloco de apartamentos megalómano que nada se enquadra dentro da harmonia arquitectónica e paisagística daquela zona. O professor, na sua intervenção, dirigiu-se ao presidente da Câmara e questionou-o se queria ser mais um presidente ou se gostaria de ser recordado pelas marcas positivas que deixou na cidade e no concelho. Penso que é de opinião geral a proliferação exagerada de betão numa cidade que continua sem planeamento, sem cuidado arquitectónico, sem sensibilidade em enquadrar novas construções com as pré-existentes, resumindo, sem qualquer planeamento urbanístico. Não me acredito que a Câmara aprove tal projecto, pois só demonstraria uma tremenda irresponsabilidade política, porém, e sabendo que existem antecedentes de autênticos crimes cometidos, por exemplo, o Centro Vidreiro, peço para que todos estejam bem atentos a esta situação, caso contrário, será perfeitamente legítimo que muitos dos proprietários que têm casas antigas queiram avançar com projectos que possam render algum capital e lapidar irremediavelmente o património oliveirense. Entendo que muitos possam atravessar dificuldades e tomarem decisões deste tipo, mas mais importante será a sensibilização de todos para que a autarquia e outros organismos possam incentivar a recuperação de casas antigas, o investimento privado em serviços e comércio em zonas históricas para que não arrasem com o nosso património edificado. Mas, como em tudo, e retrocedendo um pouco, talvez tenhamos que pensar primeiro que tipo de cidade queremos, que estratégias há a considerar, que futuro para Oliveira de Azeméis... Tudo está por fazer e o concelho corre o risco de se transformar numa manta de retalhos heterogénea e híbrida sem uma identidade que nos faça manter um sentimento de pertença à terra.

Eu assino
Nuno Araújo

2 comentários:

  1. O grande problema neste concelho é que as pessoas foram sendo habituadas a utilizar o instrumento PDM na sua máxima expressão. O PDM representa as linhas orientadores e define índices máximos de construção em determinadas áreas, o que não significa que nessas áreas se deva atingir sempre o máximo. Por analogia, nas auto-estradas o limite é de 120km mas deve adequar-se a velocidade a que circulamos conforme outras condicionantes.
    Neste caso, é a mesma coisa, deve ser analisado atendendo a envolvente que rodeia a "suposta nova edificação".
    Esperemos para ver a resposta que o Pres. CM tem para o munícipe que, de forma clara e objectiva expôs esta situação na Assembleia Municipal.
    Esperemos que o vereador do pelouro tenha a sensibilidade necessária e visão de futuro para não hipotecar o futuro desta terra baseado em pormenores jurídicos...

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  2. Bom, estamos perante mais um atentado ao património e ao desenvolvimento sustentado da nossa cidade.
    A intervenção do Professor Leonel foi de grande oportunidade e demonstra que, para além daqueles (PSD's locais e companhia...) que vivem à "sombra" do poder, a oposição não está só, pois há Oliveirenses atentos e que, sem cobardias, levantam as questões nos órgãos próprios.

    No anterior mandato foi aprovada a abertura de uma rua que ligaria Stº António (do Mercado) à rua 25 de Abril (à Farrapa) o que iriria "abrir" o acesso ao Jardim, projecto que votámos favoravelmente.

    Na última reunião questionei o Presidente da Câmara sobre o assunto, alertando para a gravidade que a aprovação de um projecto imobiliário e o abandono da abertura da rua traria ao desenvolvimento da cidade.
    O Presidente alertou o Vereador Ricardo Tavares para o facto, alegando que a abertura da rua se manteria, mesmo que fosse construído qualquer prédio,.

    Esta questão, como certamente se compreende, não vai deixar de estar na ordem do dia, pelo que na próxima reunião (dia 28 de março) iremos voltar ao assunto.

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