quinta-feira, março 16, 2006

Haja bom senso

Transcrevo aqui um artigo de opinião de José Manuel Fernandes, director do Jornal Público e que aborda a questão das maternidades. Apesar de discordar com muitas das suas opiniões, com esta não poderia estar mais de acordo.

“Proximidade por proximidade, o melhor era dar à luz em casa. Mas mais perigoso. Tal como nas pequenas maternidades que vão ser encerradas.

em Lisboa uma clínica privada onde se realizam numerosos partos. Quando correm bem, as mães recolhem aos quartos privativos que lhes asseguram todo o conforto. Quando correm mal, as parturientes já têm tido de ser transferidas de urgência para uma outra maternidade, esta pública, localizada a curta distância. É que só lá existem todas as condições para resolver os partos mais difíceis ou de alto risco.
Perguntar-se-á: por que pagam então muitas famílias um parto “privado” quando o parto “público” tem mais condições de segurança? Primeiro, porque podem pagar. Depois, porque apreciam o maior conforto e privacidade da clínica privada. Finalmente, porque sabem que os partos de risco são raros e, se alguma coisa correr mal, a maternidade pública está mesmo ali ao lado.
Tomemos agora um exemplo completamente diferente. Num centro urbano de menores dimensões existe uma maternidade pública que, por realizar poucos partos, está pior equipada e onde cada parto custa mais dinheiro aos contribuintes. E quando alguma coisa corre mal (e nessas maternidades ocorrem em média mais problemas do que nas grandes maternidades bem equipadas), corre mesmo mal.
No primeiro exemplo um cidadão paga o conforto sabendo que, em caso de problema grave, a solução está ao lado. No segundo exemplo, há cidadãos que, em nome do conforto da proximidade, insistem em manter abertas maternidades que prestam pior serviço e são mais caras. Contudo, não querem pagar mais nada por esse conforto. Claro que, conforto por conforto, o ideal seria fazer à antiga: nascia-se em casa, nuns ambiente bem conhecido, e pedia-se ao Estado que assegurasse (e pagasse) a transformação temporária do quarto-cama em exemplar maternidade temporária. Aí a proximidade seria máxima, mas ninguém a reclama, pois é fácil entender que tal solução seria impraticável. Porém, reclama-se contra uma reestruturação da rede de maternidades apesar de esta resultar da mesma racionalidade que levou a que, no passado, se deixasse de esperar em casa pela parteira e se optasse por ir dar à luz a uma maternidade. O que sucedeu porque se percebeu que tal era mais seguro, mesmo que menos confortável e familiar.
Se houvesse bom senso, o anúncio feito pelo ministro Correia de Campos de que encerrará algumas
maternidades públicas devia ter sido recebido com naturalidade, até porque há quase 20 anos que se fala em encerrar alguns desses estabelecimentos. Numa altura em que o país possui uma boa rede de estradas, num tempo em que se dá à luz com dia e hora marcados, insistir em manter estabelecimentos mal equipados, ou reclamar investimentos de requalificação que depois não teriam “clientes”, é tão irracional como defender que se devia voltar a ter as crianças no sossego do lar. Contudo é o que está a suceder, apesar de se garantir a manutenção dos serviços de obstetrícia, isto é, de se assegurar que as mães vão continuar a dispor de adequado acompanhamento pré e pós-parto. Só terão é de ir dar à luz um pouco mais longe de casa.
Sugere-se por isso que quem desejar ter o conforto da proximidade pode sempre fazer como os que escolhem a tal clínica de Lisboa: pagar para ter uma maternidade privada mais perto de casa e assegurar-se, antes de entrar em trabalho de parto, que há um helicóptero por perto para, no caso de alguma coisa correr mal, se chegar depressa à maternidade pública mais próxima. Não peçam é a todos os contribuintes para suportarem esse conforto.”

José Manuel Fernandes

5 comentários:

  1. por falar em maternidades alguem sabe informar se o nosso deputado que esta contra a medida abordou o ministro hoje no parlamento?

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  2. Não falou. Posso testemunhar. Estive atento ao canal Parlamento e a única coisa digna de registo que observei foi a forma efusiva com a "nossa" deputada aplaudiu o senhor ministro.

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  3. Concordo em absoluto com o José Manuel Fernandes.
    E, já agora… gostaria de questionar o Sr Hermínio Loureiro que, nos últimos tempos, tem andado "frenético" com a questão do Hospital.
    Conhece o serviço de maternidade?
    Sem querer ser demagogo: a sua filha nasceu lá?...
    Eu conheço-o, e muito bem, pois os meus filhos nasceram no nosso Hospital.
    Nessa altura, já há 15 anos, ouvia os lamentos dos profissionais relativamente às condições precárias em que exerciam os actos médicos. Tivemos sorte porque não aconteceu nada de grave pois, como refere o Director do Público, se isso tivesse acontecido não teria havido meios e condições para intervir com a rapidez e a qualidade que tais circunstâncias exigem.

    De facto, é pena que o Sr Hermínio esteja a “brincar” com os sentimentos dos Oliveirenses e a usar a maternidade para se aproveitar politicamente, provavelmente para desviar as atenções da colossal asneira que cometeu ao tomar posse como Presidente da FLS.
    Sobre o assunto da maternidade, para além de não querer que o serviço encerre e reivindicar explicações do Ministro, não lhe ouvi ainda outros argumentos.
    Depois de ter lido e ouvido várias opiniões, tecnicamente fundamentadas, sobre o funcionamento das maternidades, considero que, com o número de partos anual e nas actuais condições, não é politicamente sério defender a manutenção do serviço de maternidade em AO.

    Assim, e correndo o risco de alguma má interpretação por parte dos Oliveirenses bairristas e menos informados, considero mais sensato aceitar o encerramento desse serviço e, por outro lado, defender a criação das melhores condições (a nível de pessoal
    técnico e instalações) para as valências que pudermos assegurar no nosso Hospital.

    Concluindo, e sem querer menosprezar qualquer outro Serviço, julgo que neste momento a luta política – de todas as forças partidárias - deve centrar-se na "urgente" reivindicação de uma intervenção de fundo no Serviço de URGÊNCIAS que, de acordo com um médico da nossa “praça”, nas condições em que se encontra, já deveria ter encerrado…

    Sr Hermínio, não venha dar lições em matéria que tem mais de técnico do que de político. Querer que seja tomada a decisão política de manter um serviço sem as condições exigidas, só por ignorância ou para retirar dividendos políticos de matérias muito sérias.
    Com o congresso à “porta”, preocupe-se com os “amigos” do líder do seu PSD!…

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  4. manuel alberto para quem não quer ser demagogo não estás a ter muito sucesso

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  5. Felizmente, na minha vida, tomo decisões em função de princípios e convicções, sem pensar se vou ter ou não sucesso.

    Quanto à demagogia, cada um que julgue como entender, tal como eu os julgo.

    Sobre a questão do serviço de maternidade, tinha-me sido transmitida a ideia de que o problema residia numa simples questão de obras nas instalações.
    Porém, com o evoluir da situação e com a publicação de estudos técnicos orientados por independentes da política (aliás, iniciados no governo PSD/PP), todos ficamos a perceber que a questão é mais complexa do que se julga. Afinal, o que está em jogo é uma questão de assegurar a melhor prestação de cuidados de saúde aos utentes, pelo que a manutenção deste serviço não pode ser entendida como um capricho bairrista.

    Como referi, pessoalmente gostaria imenso que pudéssemos manter essa valência, com a qualidade necessária e por tal lutaria se apenas dependesse de obras.
    Porém, depois de tomar conhecimento de que os 600 partos anuais não garantem a manutenção de um serviço que permita executar partos com qualidade e segurança exigidos -de acordo com normas definidas internacionalmente para estes serviços -, e depois de ouvir o próprio Director do Hospital a assumir como erro a manutenção desta unidade, só por teimosia ou irresponsabilidade manteria tal posição.

    Não sou daqueles que muda constantemente de opinião, mas, perante tais factos, se não percebesse a gravidade desta situação, estaria a ser pouco sensato.

    Sem pretender fugir à questão, todos percebem que o que está errado não é que as mães Oliveirenses vão, em segurança, dar à luz no Hospital S. Sebastião na Feira.
    O que é triste é que, no passado, não tivesse existido "peso" político suficiente para influenciar a construção deste hospital em Oliveira de Azeméis.

    Como referi, resta-nos a união no sentido de obter uma rápida intervenção nas valências que "definham", pondo em risco a saúde dos Oliveirenses.

    Nota: Estes comentários anónimos, além de cobardia, lembram-me o triste AZÉMULA que, ao que se diz, dependia de "quadros" políticos cá da urbe...

    Cresçam e apareçam!!!

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