Revolução precisa-se

Hoje celebra-se a revolução dos cravos. Recordam-se os principais protagonistas, exaltam-se os feitos da democracia, relembram-se músicas de intervenção e apela-se à participação cívica e ao exercício da cidadania. O alheamento da vida política da população é um facto incontornável, que muito se deve às práticas demagógicas, à retórica do discurso político, às dificuldades que os portugueses sentem diariamente com a crise instalada cuja saída parece uma miragem e também ao desinteresse cujas motivações intrínsecas e extrínsecas são diversas...
Em Oliveira de Azeméis tudo está como não deveria estar. Os discursos esgotam-se à volta das mesmas temáticas: as infraestruturas básicas, o Parque de La Salette, a rede de transportes, o 'desordenamento do território', o comércio tradicional, as Praças da Cidade, os arquivos municipais, as bibliotecas, e por aí fora... Resumindo, uma total ausência de visão estratégica. Porque é que afinal continuamos a dizer que Oliveira de Azeméis continua na mesma, não é apetecível, não tem vida, parou no tempo? É fácil apontar o dedo. O primeiro culpado pelo estado de coisas são os vários executivos que têm passado pela Câmara. Esta é a resposta natural dos mais inconformados, mas nem por isso sensatos.
Na minha perspectiva, Oliveira de Azeméis é cada vez menos apetecível. Para morar, para investir, para visitar. Tenho pena, porque também me sinto responsável por este estado de coisas. As sucessivas Câmaras que passaram mereceram o voto dos oliveirenses para dirigir os destinos do nosso concelho. Bem ou mal, foram eleitos, tiveram a confiança do eleitorado. A oposição, colocada nessa posição também por esse mesmo eleitorado, foi também fazendo o seu papel, umas vezes melhor, outras pior. O eleitorado, esse, na sua esmagadora maioria, aguardou pelo desempenho dos políticos, mandando uma ou outra farpa, quase sempre no anonimato - à semelhança do que acontece neste blog - sem qualquer resultado prático.
Resumindo: entrámos num ciclo vicioso com o executivo a ser acusado de incompetência, a oposição de adormecimento e os cidadãos de acomodados. Acho que isto está muito perto da verdade, salvo raras excepções.
Independentemente da complexidade sistémica das teias relacionais que envolve pessoas, empresários, instituições e partidos, que carecem de uma análise profunda, penso que de uma forma simplista e empírica posso apontar, digo, sugerir algumas soluções.
Que Abril sirva para reflectirmos sobre o nosso papel na sociedade oliveirense cuja construção é colectiva e suas consequências decorrentes de um modelo de co-responsabilização civil. Abstenho-me agora de tecer considerações sobre o executivo e a oposição. O meu apelo vai para a população.
Que se inquiete, que critique, que procure explicações, que não desanime, que participe, que não se acomode, que dispa a camisola rosa, laranja, azul ou vermelha, que se una, que combata, que reconheça, que esteja atenta, que viva, que se divirta, que seja alegre, que se enfureça, que entristeça, que contemple, que seja tolerante, que se responsabilize...
Não resisto fazer uma consideração aos políticos: que ouçam, respeitem, valorizem, reconsiderem, que sejam dignos da confiança que os oliveirenses depositaram.
Aque Abril sirva para refundarmos o conceito de liberdade. É que ser livre implica maior responsabilidade.