domingo, outubro 07, 2007

PURA rima com DURA (realidade)

Se não se importam e com respeito à situação económica-financeira da CMOA deixo a seguir alguns dados objectivos, opinião e, quiçá, algumas pistas para reflexão.

À laia de intróito, embora sendo verdades de La Palisse, todos teremos presente que, por definição, os recursos são sempre escassos e que consumir hoje, quando se não dispõe dos aadequados recursos, é comprometer receitas futuras.

Tem existido algum bruá, algum ruído, acerca de um empréstimo bancário de 16 milhões de euros, a 12 anos, que a CMOA irá contrair tendo em vista a consolidação ou reestruturação de uma fatia significativa da dívida, neste caso concreto a fornecedores.

A meu ver, a solução adoptada (ou a adoptar) é uma aspirina, de efeito analgésico mais ou menos temporário, constituindo a quase –senão mesmo única – saída para diferir ao longo de uma década o que descarrilou no passado, sobretudo de 2004 para 2005
Veja-se a evolução da dívida global nos últimos anos:

Ou seja, até 2004 o endividamento correspondia, grosso modo, à mesma ordem de grandeza do volume de receita arrecadada em cada ano (à volta de 28 a 30 milhões de euros). De 2004 para 2005, o endividamento cresceu 78 % e o valor absoluto da dívida passou a representar 1,9 vezes (em 2005) e quase 2 vezes (em 2006) o encaixe anual das receitas de cada um dos referidos anos.

Atente-se ainda num outro indicador: qual o peso dos custos de estrutura (Custos com o pessoal, fornecimentos e serviços correntes, sobretudo) com exclusão de amortizações (por não constituírem um fluxo de caixa) vs. Receitas ? O peso dos custos de estrutura vs receitas andará na ordem dos 75% (ver imagem informativa a seguir)

Ou seja: em cada ano a parte das receitas que sobra para novo investimento e amortizações de dívidas rondará os 25%.
Dir-se-á: que importa o montante da dívida se ‘há obra feita’ ? Claro que se há dívida é porque se gastou acima das posses em mil e uma coisas. Uma fundamentais, outras questionáveis quanto à oportunidade e prioridade. Naturalmente e óbvio. Mas dizer-se somente que ‘há obra feita’ é que é muito curto, muito redutor.
Embora caiba aos decisores políticos definir prioridades, eleger os calendários de execuções (muitas vezes de acordo com os ciclos eleitorais) não é líquido nem é evidente que as opções tomadas sejam as que satisfaçam muitas das necessidades básicas ou prioritárias dos munícipes, missão fundamental de uma autarquia.
Seria interessante aferir, por exemplo, qual o peso do investimento em saneamento e abastecimento de água efectuado nos últimos 2 anos. Não terá sido pouco mais de 1 milhão de euros ? Menos de 2% do endividamento total actual ?
E se chamo aqui à colação o saneamento e o abastecimento de água é porque são das necessidades mais básicas e mais prementes para a qualidade de vida e de bem estar das populações. E neste capítulo, pelo que foi publicitado, o concelho ocupa um dos lugares menores da classificação dos municípios portugueses. Sabe-se que o esforço financeiro de investimento exigido naquelas áreas é muito elevado. E surge a dúvida: como e quando se agarra este problema de frente ? Mais a mais que no passado já houve melhores oportunidades de co-financiamento.
E desde há quantos anos se vai ouvindo falar de novas zonas industriais ? Entretanto constata-se que já são muitas as empresas que se vão deslocando para outros municípios (com os reflexos negativos de vária ordem que tal induz, com a diminuição da riqueza produzida no concelho e menor receita arrecadada) não falando na inexistência de capacidade atractiva para instalação de novas empresas.

Voltando ao início: não é o tão discutido empréstimo bancário que vai hipotecar o futuro. De há muito que foi hipotecado. A margem ou folga para investimento é cada vez mais estreita.
Em termos de projecção, com dados actuais, o valor médio anual passível de ser utilizado em investimento rondará os 4 a 5 milhões de euros (metade do estimado como realização em 2007) ou, dito de outra maneira, considerando a manutenção dos actuais custos de estrutura, a folga, face à receita anual projectada, diminui de cerca de 25% para cerca de 16%.
É óbvio que o lençol começou a ficar muito curto.
Ao contrário de outras realidades (também muito duras e que a todos nos toca), não se pode argumentar com responsabilidades por ‘heranças recebidas’.

9 comentários:

  1. Assim sim!
    Até que enfim uma sucessão de magníficas contribuições que muito contribuem para a credibilidade deste blogue.
    É ESTE O CAMINHO!
    Não se distraiam com minudências: mereçam a confiança das pessoas que elas dar-vos-ão o seu contributo.

    Respeitosamente,

    Tono

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  2. Amigo Carlos Cunha os meus parabéns pelo texto, isto é o que se chama tratar de coisas sérias e, como é evidente, o blogue só sai a ganhar. Aproveito para deixar aqui o meu lamento quanto à situação do saneamento e abastecimento de água que é uma verdadeira vergonha, mas como todos nós sabemos é obra que fica enterrada e, por isso mesmo, não dá muito jeito para inaugurações!!! Um grande abraço. Zé

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  3. Desde já os meus parabéns ao autor deste post. Continue.

    A CMOA ainda tem folego para mais um empréstimo.pensei que era desta que desistiam e enterravam a cabeça na areia...
    Se vão contrair um empréstimo tão avultado como refere neste post, achava por bem que se procedesse a uma tão necessária reformulação não só a nível de funcionários, como também a nível de património.

    Já ouvi algumas vezes, o senhor presidente da câmara, com orgulho, afirmar que esta é pioneira na implementação de sistemas de qualidade (alguns para inglês ver, veja-se como dão seguimento às nossas reclamações! Estamos anos à espera de resposta, isto quando ela é dada).
    Acho que deveria finalmente preocupar-se com a produtividade, que esse é sim, o cerne do verdadeiro sistema de qualidade.

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  4. Ah! grande Carlos!
    Pelo excelente texto (és mestre nestas coisas) os meus sinceros parabens.

    M

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  5. “Amigo” Carlos. És democrata? Este executivo foi eleito e reeleito várias vezes, mudando pequenas peças ao longo dos anos. Sabes o que isso? Democracia, meu caro….

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  6. Não tou a ver como é que um saneamento financeiro desse valor irá resolver o problema da cãmara, se alguns tempos atrás se falava no jornal numa divida de 50 milhões.
    Como municipe muito me espanta, deve ser algum engenheiro em contabilidade, daqueles tipo tacho, e que se calhar ainda contribuiram para o buraco, e agora continuam a fazer m....

    Ze Mul

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  7. Meus caros é uma vergolha um hospital que iria perder urgência básica não só fica com a mesma como ROUBA Ginecologia ao nosso Hospital...

    Este Goberno, os seus Deputados que o alicerçam entre eles a Drª. Helena Terra não deveriam ser autorizados a vir a Oliveira de Azeméis...

    É inadmissivel ter esta senhora como deputada que representa os interesses do nosso concelho, ainda quer ser Presidente da Câmara, retrate-se senhora!


    Hospital São João da Madeira perde urgência médico-cirúrgica mas mantém urgência básica!


    Desde o dia 1 de Outubro, o serviço de Urgência do Hospital Distrital de S. João da Madeira (HDSJM) já não tem as valências médico-cirúrgicas de Ortopedia e Cirurgia Geral, mas mantém-se em funcionamento a urgência básica, aberta 24 horas por dia. Os doentes que necessitem de cirurgia urgente são assim transferidos para o Hospital S. Sebastião, enquanto os restantes continuam a ser atendidos em S. João da Madeira. O presidente da autarquia refere, no entanto, que o futuro da Urgência ainda está em negociação com o Ministério da Saúde.

    Ginecologia já
    em S. João da Madeira

    A par das alterações verificadas ao nível do serviço de Urgência, também no dia 1 de Outubro, o HDSJM passou a integrar as especialidades de Ginecologia do Hospital de Oliveira de Azeméis, com base num protocolo estabelecido com esta unidade hospitalar.
    S. João da Madeira recebe assim a área cirúrgica, consulta externa, exames de diagnóstico e terapêutica de Ginecologia, sendo que o Hospital de S. Miguel (Oliveira de Azeméis) manterá, contudo, consulta externa da especialidade.
    No seu comunicado, a ARSN diz que, com a integração da Ginecologia, “a população do concelho de S. João da Madeira terá uma melhoria significativa na acessibilidade a esta importante especialidade e o Hospital terá uma oferta de serviços mais alargada e com repercussão para as utentes que o procuram”.

    ...isto é GOZAR na nossa cara!

    ABAIXO A DEPUTADA H.Terra, ABAIXO OS TACHOS...

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  8. Caro Dr Carlos Cunha,

    De facto, contra factos, não há argumentos e não vale a pena "tapar o sol com uma peneira"...

    Desde há muito (início do mandato anterior) que o PS vem alertando para este facto que o PSD "escondeu" nas últimas eleições.

    É certo que este partido "recebeu" uma vez mais uma maioria, tendo cabido ao PS a oposição (mais reforçada), pelo que compete-lhe conquistar a confiança dos Oliveirenses, apresentar alternativas credíveis e aguardar que a gestão eleitoralista seja penalizada pelo voto.

    Porém, pela vitimização a que temos assistido e pelas "desculpas" permanentes do PSD, há ainda muito trabalho político pela frente...

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  9. Ao anónimo das 11.44 quero dar os meus sinceros parabéns pelo texto enviado, é que já não me ria desta maneira há muito tempo com tanta asneira. Só espero que continue pois tem muito jeito para a parvoíce e com isso sempre nos mantem bem dispostos. OBRIGADO!!!

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