Memórias do Café Arcádia (1)

Quando se perdem as referências é porque já não há presente nem futuro….

Anos sessenta do século passado.
Atrás do Balcão, o sr. Rui Araújo, atirando uma ‘bocas’ ao mesmo tempo que aviava uns cafés e cevadas (e também uns copitos no ‘reservado’, porque não ?).
Velha glória do futebol português, Rui Araújo, fora jogador do Sporting e da Selecção Nacional. Foi o futebol quem o trouxe até Oliveira de Azeméis, como treinador da União Desportiva Oliveirense (mais tarde de outros clubes das redondezas também).
Sócio do Café Arcádia com os irmãos Bastos, primeiro. Único proprietário, logo depois.
No ângulo direito para quem entrava no Café Arcádia, entre duas largas portadas envidraçadas, a sacrossanta mesa do dominó, intocável e inocupável entre a uma e as duas da tarde, pelo menos, salvo por um determinado grupo.
Ali tinham assento reservado para as diárias partidas de dominó o Padre Salgueiro, o sr. Figueiredo dos Seguros, o sr. Ilídio Almeida, e alguns (poucos mais), completando-se, a quadra de jogadores muitas das vezes com o sr. Prior do Pinheiro (a quem muitos, sabendo-o por ali presente, arrojavam-se a pedir-lhe um empenho que tanto podia ser para livrar da tropa, para arranjar um emprego, para um ‘jeitinho’ na carta de condução e, oh supremo despautério, para livrar da tropa. Eram os - duros - anos sessenta. Uma guerra em várias frentes africanas já chamavam pelos jovens deste país. Goa, Damão e Diu já tinham ficado desprendidas do Império Português.
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Uma das primeiras imagens que guardo do Café Arcádia, finais dos anos cinquenta, é a da constante presença de um senhor, já com alguns cabelos brancos, sentado, sempre que o tempo permitia, no exterior do café, sob as arcadas. Falava de uma forma estranha, para mim.
Sentava-me no seu colo e dizia lá para dentro: “ Rui ! dá ribuçado pró minino “.
Alguns anos anos mais tarde fiquei a saber que o senhor que me dava rebuçados se chamava Peics, era húngaro, jogara futebol, provavelmente de origem judia,, provavelmente fugido da barbárie nazi e que encontrou em Portugal o seu porto de abrigo, fazendo seu mister treinar equipas de futebol, UDO incluído.