Cumprem-se 31 anos após o 25 de Abril de 1974. Ainda bem que são muitos os que (já) não sabem o que foi o antes de Abril.
Três décadas, são pouco na vida de um país, mas tanto na vida de cada um de nós. Tinha eu então 8 anos, a caminho dos nove. Não me lembro do dia. Nunca puderei dizer como foi para mim. Estava a milhares de kms., onde só soubemos dias depois, provavelmente. Não havia TV, internet, só as ondas curtas da rádio. Era à volta dele que nos reuníamos.
Tenho lembranças em farrapos, dos sinais do antes: as conversas e sussurros escondidos entre o meu pai, Eládio e o meu avô paterno, Fabiano; os livros escondidos em casa; as palavras proibidas; a expressão maldita, "pide".
Memórias tenho muitas, mas depois: as grandes frases e slogans, a exaltação do fim da guerra, o fascínio dos murais e as misteriosas pinturas nascidas durante a noite, a profusão dos cartazes, as palavras de ordem nas conversas, as barbas fartas, a imagem dos cravos, as grandes conversas e o tom alto das conversas domésticas, as discussões acaloradas. Tudo foi de repente.
Alguém pendurou um grande cartaz, em frente a minha casa: "O Povo Unido Jamais Será Vencido!". Esta será, para sempre, uma das mais estranhas e marcantes frases da minha infância de Abril. Sabe-se lá porquê!
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